Entenda o que é asfalto diluído de petróleo, possível causador do mau cheiro na Zona Leste de Porto Velho

Por Marcio Fraga em 21/10/2022 às 16:07:23
Professor da Universidade Federal de Rondônia (Unir), doutor em química, explica sobre as características desta mistura e os seus perigos. Pelo menos quatro bairros foram atingidos pelo mau cheiro. O mau cheiro relatado por moradores na Zona Leste de Porto Velho, desde o início desta semana, pode ter sido provocado pela liberação de gases resultantes da queima de resíduos durante a produção de asfalto diluído de petróleo - CM 30.

As investigações começaram na última quarta-feira (19) devido às reclamações de moradores da região. Até o momento pelo menos quatro bairros foram atingidos, entre eles: Ulisses Guimarães, Ronaldo Aragão, Marcos Freire e Socialista.

Para explicar sobre as características desta mistura e os seus perigos, o g1 conversou com o professor e coordenador do departamento de química da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Júlio Militão.

Veja abaixo perguntas e respostas sobre a mistura

O que é o Asfalto Diluído de Petróleo - CM 30?

O asfalto diluído de petróleo, do tipo CM 30, é uma mistura de hidrocarbonetos. De forma mais clara, como o próprio nome indica, essa combinação é formada pelo asfalto líquido diluído com algum solvente orgânico, de preferência querosene.

"Ele é utilizado como coadjuvante, para untar. Por exemplo: se colocar a camada asfáltica - que é uma massa seca - na estrada compactada, ela não gruda facilmente. O que eles fazem? 'Melam' com CM 30. Passam duas, três vezes, depois jogam a massa asfáltica e vai compactando. Ou seja, ele é utilizado como uma figura de união entre coisas insolúveis, que não se misturam bem", explica o professor.

Professor Júlio Militão explica o que é Asfalto Diluído de Petróleo CM 30.

Jaíne Quele Cruz/g1

A mistura é prejudicial à saúde?

Ao g1, o professor doutor em química, explicou que assim como outras substâncias químicas puras ou misturadas com solventes orgânicos, o CM 30 possui graus de toxicidade. No entanto, para atingir uma área que incorpora quatro bairros - segundo os dados mapeados até o momento - é provável que tenha acontecido alguma anomalia.

"O que pode ter acontecido é usar um tipo de solvente inadequado, ter aquecido demais ou teve um vazamento. São substâncias muito voláteis. Se você usar um solvente mais barato ou operar de forma inadequada, vai aquecer e diluir e pode acontecer de liberar gases que não são esperados".

Porém, Júlio ressalta que essas são apenas algumas das possibilidades. A verdadeira causa deve ser investigada por órgãos competentes, ligados ao meio ambiente - ou até mesmo ao trabalho, considerando o risco ocupacional.

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Como acontece a intoxicação?

"O etanol, por exemplo: ao invés de beber uma dose de álcool, se você cheirar o etanol por alguns instantes, vai ficar embriagado. Por quê? O vapor vai entrar na corrente sanguínea pelo pulmão. Aquela substância vai mexer com os neurotransmissores, perturbar aquele equilíbrio, atrasar ou adiantar alguma coisa e você vai ter aquele sentimento de tontura. O CM 30 é a mesma coisa, são solventes orgânicos, o efeito é o mesmo. O corpo humano é muito frágil", exemplifica Júlio.

Quais os efeitos causados pela intoxicação?

Os primeiros sintomas de intoxicação de solventes orgânicos são vertigens e náuseas. Mas pode evoluir até casos mais graves como desmaios e reações alérgicas. Segundo o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cieves) de Porto Velho, a mistura também pode provocar irritação das vias aéreas resultando em tosse, dor de garganta, falta de ar e sensação de queimação no peito.

Alguns desses sintomas foram citados por moradores da capital nas redes sociais. Além disso, aulas em escolas da região foram canceladas devido ao cheiro e moradores chegaram a sair de suas casas e se deslocaram para residências de parentes por causa do odor (confira aqui).

Quais as recomendações médicas?

Segundo informado pela Prefeitura de Porto Velho, no caso de sintomas, a população pode procurar atendimento médico nas unidades de saúde da capital e se for constatado o risco de intoxicação por gás a equipe médica deve notificar imediatamente os casos suspeitos ao CIEVS Municipal para ser investigado.

*Colaborou Ana Kézia Gomes, do g1 Rondônia
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