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Quem foi o 'Índio do Buraco', último sobrevivente de seu povo encontrado morto em Rondônia


Indígena vivia sozinho e isolado. Ele morreu como o último homem de seu povo, sem que sua etnia e sua língua fossem descobertas. Em junho de 1996, o 'Índio do Buraco', também conhecido como 'Índio Tanaru', foi visto pela primeira vez por homens brancos em Rondônia. Vinte e seis anos depois daquele 'contato', o indígena foi encontrado morto em seu território.

O homem, conhecido por viver sozinho e isolado na densa floresta Amazônica, morreu como o último homem de seu povo, sem que sua etnia e sua língua fossem descobertas.

índio do Buraco

Funai/Reprodução

Tentativa de contato

O indígena resistiu ao contato com o homem branco até sua morte. Ele foi visto pela primeira vez por uma equipe da Frente de Proteção Etnoambiental Guaporé (FPE Guaporé) em 1996.

As buscas por ele começaram depois que um grupo de madeireiros apontou a existência de um índio, uma cabana, armadilhas e um buraco que, posteriormente, serviria de apelido ao aldeado.

Ao g1, Altair Algayer, coordenador da FPE Guaporé na época do contato, relembrou a tentativa de contato.

“Chegamos a ficar duas horas em frente da cabana para convencê-lo a sair, mas ele se armou dentro dela”, lembra.

Ele vivia entre os municípios de Chupinguaia (RO), Corumbiara (RO), Parecis (RO) e Pimenteiras do Oeste (RO). Em 1998, a Terra Indígena Tanaru, que tem 8.070 hectares, foi classificada como restrição de uso.

Terra Indígena Tanaru em Rondônia

Reprodução/ISA

Nem sempre sozinho

O 'Índio do Buraco', apesar de ter vivido isolado por mais de 30 anos, nem sempre esteve só. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai) os últimos membros do seu povo foram mortos em 1995.

Os indígenas que viviam na TI Tanaru foram vítimas de eventos históricos na Amazônia desde 1980, onde a colonização desenfreada, a instalação de fazendas e a exploração ilegal de madeira provocou sucessivos ataques aos povos indígenas isolados que viviam nessas regiões, resultando em expulsões de suas terras e mortes.

“Em 1995 havia um grupo com quatro pessoas, que não tinha mais condições genéticas de se reproduzirem entre eles”, explicou Altair.

Buraco

Desde que o indígena foi visto pela primeira vez, mais de 50 incursões de monitoramento foram realizadas pela Funai na floresta.

Segundo o órgão, ao longo de 26 anos, 53 habitações do 'Índio Tanaru' foram encontradas e todas seguiam o mesmo padrão arquitetônico: uma única porta de entrada/saída e sempre com um buraco no interior da casa.

Ele vivia em uma cabana, popularmente conhecida como tapiri: estrutura feita com lascas e cascas de madeira, palmeiras e troncos de pau, coberta com palha do chão até o teto.

Buraco em Tapiri

Reprodução/Txai Surui

“A primeira coisa que ele fazia é cavar um buraco. Depois, construía a casa. A ação, aparentemente, não tem função nenhuma aos nossos olhos, mas acredito que a prática esteja ligada à sua religião", explica Altair.

Isso porque mesmo com o buraco dentro da cabana, o indígena não dormia lá dentro e não guardava nada. Ele dormia geralmente em uma rede armada em cima do buraco.

Morte

Último sobrevivente de seu povo, 'Índio do Buraco' é encontrado morto em Rondônia

O corpo do Índio do Buraco foi encontrado "dentro da rede de dormir, em sua palhoça, na Terra Indígena Tanaru", na última terça-feira (23).

De acordo com Ivaneide Bandeira, ambientalista e fundadora da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé e que também participou do processo de localização do indígena há mais de 20 anos, disse que no momento em que foi encontrado morto, "[ele estava] paramentado como soubesse que sua morte estava próxima".

Segundo a Funai, "não havia vestígios da presença de pessoas no local, tampouco foram avistadas marcações na mata durante o percurso". Além disso, não havia sinais de violência ou luta.

A Polícia Federal (PF) esteve no local e realizou a perícia com a presença de especialistas do Instituto Nacional de Criminalística (INC) de Brasília e apoio de peritos criminais de Vilhena (RO). Ainda não se sabe a causa da morte.

*Colaboração de Pedro Bentes e Jaíne Quele Cruz.

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