A Ucrânia acusou a Rússia neste sábado (23) de lançar mísseis contra o porto estratégico de Odessa e de "quebrar suas promessas".
O ataque aconteceu um dia depois que os dois países tinham fechado um acordo para retomar as exportações de grãos, bloqueadas pela guerra.
O porta-voz da força aérea ucraniana, Yuriy Ignat, informou que o porto de Odessa foi atacado quando cargas de cereais estavam sendo processadas, e que outros dois mísseis foram interceptados.
Em uma reunião com legisladores americanos, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky se pronunciou sobre o caso: "Isso prova que não importa o que a Rússia diga ou prometa, sempre vai encontrar uma maneira de não cumprir os acordos".
A Rússia não se pronunciou oficialmente sobre a acusação, mas segundo o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, nega ter atacado o porto.
Para o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, Oleg Nikolenko, ao disparar mísseis no porto, o presidente russo, Vladimir Putin, "cuspiu na cara do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e do presidente turco, Recep (Tayyip) Erdogan, que fizeram enormes esforços para chegar a esse acordo". Ele complementou que a Rússia deve assumir "toda a responsabilidade" se o acordo falhar e "a crise alimentar mundial" se aprofundar.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, condenou "inequivocamente" o ataque e destacou que "a implementação completa (do acordo) pela Federação Russa, Ucrânia e Turquia é imperativa".
Na mesma linha, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que o ataque "demonstra o total desrespeito da Rússia pelas leis e compromissos internacionais", enquanto a chanceler britânica, Liz Truss, o classificou como "completamente injustificado".
"Este ataque lança sérias dúvidas sobre a credibilidade do compromisso da Rússia com o acordo desta sexta-feira (22)", afirmou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em comunicado.
De acordo com o governador da região de Odessa, Maksym Marchenko, os ataques deixaram "várias pessoas feridas", sem dar mais detalhes.
O pacto - que foi assinado na Turquia - é o primeiro grande acordo entre as partes em conflito desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro. O acordo busca ajudar a amenizar a fome que, segundo a ONU, afeta 47 milhões de pessoas a mais devido à guerra.
A Ucrânia se recusou a assinar diretamente o mesmo documento com a Rússia, então ambos os países assinaram acordos idênticos separados com a Turquia e a ONU, na presença de Guterres e Erdogan, em Istambul.
"Hoje há um farol no Mar Negro, um farol de esperança, um farol de alívio", disse Guterres pouco antes da assinatura. Erdogan, peça-chave na negociação, disse esperar que o acordo "reviva o caminho para a paz".
Antes de assinar, a Ucrânia alertou que daria "uma resposta militar imediata" se a Rússia violasse o pacto e atacasse seus navios ou invadisse seus portos.
Zelensky afirmou que a ONU deve garantir o cumprimento do acordo, que inclui o trânsito de navios com cereais ucranianos por corredores seguros para evitar minas no Mar Negro.
Até 20 milhões de toneladas de trigo e outros grãos estão bloqueados nos portos ucranianos, especialmente Odessa, por navios de guerra russos.
Zelensky estima o valor dos estoques de grãos da Ucrânia em cerca de US$ 10 bilhões.
A Rússia tenta assumir o controle total da província de Donetsk e da vizinha Luhansk. Ambas as regiões compõem a região do Donbass, no leste da Ucrânia, que viveu mais um dia de bombardeios pesados.
Dois americanos morreram nesta região, controlada parcialmente por separatistas pró-russos desde 2014. O Departamento de Estado dos Estados Unidos não informou se eles eram combatentes.
Na região central da Ucrânia, pelo menos três pessoas, incluindo um militar, foram mortas e outras 16 ficaram feridas neste sábado (23) durante um ataque de mísseis russos à infraestrutura ferroviária e a um aeródromo militar na cidade ucraniana de Kirovograd.
A Rússia também continua bombardeando Kharkov, a segunda maior cidade ucraniana, localizada no nordeste. Os ataques deixaram pelo menos uma mulher ferida.
Um homem morreu na região de Sumy, a noroeste da capital. Outros dois, incluindo um adolescente, ficaram feridos em ataques em Mikolaiv, a maior cidade sob controle ucraniano perto de Kherson, ocupada pelos russos.