G1 conversou com duas especialistas que apontaram os principais fatores para a diferença do clima entre as regiões. Confira!
As regiões Sul, Sudeste e Nordeste foram surpreendidas com uma forte onda de calor, que manteve a temperatura acima da média até o início de março. Em contraste, Rondônia enfrentou dias chuvosos e rios cheios. Mas porque isso acontece?
Durante a onda de calor, cidades como São Paulo e Curitiba bateram recordes de temperatura, segundo dados do Climatempo:
Na capital paulista, a máxima registrada foi de 34,8°C, o que é a maior temperatura já vista em um mês de março.
Curitiba teve o dia mais quente do ano no domingo (2), com 32,6°C.
Já em Porto Velho, entre 7 e 8 de fevereiro, choveu 123 milímetros, o esperado para 7 dias. Ao g1, a meteorologista Andrea Ramos informou que essa quantidade corresponde a quase 40% do esperado para o mês de fevereiro, que era 316 milímetros.
O rio Madeira, que há cinco meses chegou ao menor nível da história, entrou na cota de alerta de cheia em fevereiro. E na região central de Rondônia, o rio Machado transbordou, tirou famílias de suas casas e chegou muito próximo de atingir o maior nível desde que começou a ser observado: 11,85 metros.
Rio Madeira
Reprodução
Para explicar essa discrepância entre o Norte e as demais regiões do país, o g1 conversou com duas especialistas em tempo e clima. E o principal fator é que de outubro a abril o estado de Rondônia passa pelo "inverno amazônico". Entenda:
????O inverno amazônico é o período mais chuvoso na região Norte do Brasil. Apesar do nome, não significa frio, mas sim um aumento das chuvas e da umidade. Durante esse período, rios como o Madeira atingem seus níveis mais altos devido às chuvas intensas na Amazônia e nos Andes.
"O Brasil é um país muito grande onde diferentes sistemas e condições meteorológicas podem acontecer simultaneamente em diferentes regiões, como é o caso da região Norte em comparação ao Sul e Sudeste neste momento", explica Isabella D. Valenti, meteorologista e especialista em convecção na Amazônia.
De acordo com a especialista, a região Norte também possui um período chuvoso mais prolongado em relação a outras regiões do país e, por conta da formação de nuvens, comum nessa época do ano, há a diminuição da radiação solar, o que explica a temperatura mais amena.
Alguns fenômenos interferem no tempo e clima:
El Niño: Aquece as águas do Pacífico e altera os ventos, deixando algumas áreas mais secas e outras mais chuvosas.
Rios Voadores: Massas de ar úmido da Amazônia que levam chuva para outras regiões do Brasil.
ZCAS e ZCIT: Sistemas de ventos que influenciam as chuvas e podem prender o calor em algumas áreas, alterando a precipitação.
Mas, além dos fenômenos naturais, a ação humana também interfere, tornando o clima mais instável e imprevisível, segundo etnoclimatologista Alba Rodrigues.
"A ação humana no ambiente natural gera impactos ambientais, alguns irreversíveis [...]. As queimadas na Amazônia, em 2024, nos alerta para uma questão muito séria, que é a alteração na capacidade da floresta em pé de captar emissões de carbono, e que isso já se modificou, é alarmante, pois está emitido mais gases de efeito estufa do que pode absorver", aponta.
Isabella Valenti também aponta o aquecimento global como risco, principalmente para as regiões tropicais, onde está localizada a Amazônia.
"Os efeitos das mudanças climáticas já são uma realidade, e regiões tropicais, como Rondônia, estão especialmente vulneráveis. O aquecimento global intensifica a frequência e a severidade dos eventos meteorológicos, podendo resultar tanto em períodos de chuvas extremas quanto em estiagens mais prolongadas", relata a especialista.
Segundo Alba Rodrigues, a floresta, além de gerar umidade e micropartículas de água que formam as nuvens para precipitação, também têm papel regulador no sistema e regime de águas. A etnoclimatologista aponta que para evitar desastres, o governo precisa parar de negar o problema e criar planos de prevenção e emergência.
"Melhorar somente a médio e longo prazo, somente se houver uma força tarefa para que a humanidade terráquea tome consciência que ela não é a espécie principal, e que mude a forma-pensamento antropocêntrica de se relacionar com a vida que pulsa e se interliga", conclui.