Triângulo, Agenor de Carvalho e Caladinho: conheça a história e a origem dos bairros de Porto Velho

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Por Marcio Fraga em 24/01/2025 às 16:37:01
Primeiro bairro da cidade foi o Triângulo, que surgiu nas proximidades onde funcionava a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM). A capital hoje possui 71 bairros, 12 distritos e uma dimensão territorial de 34.082 km², maior que a Bélgica e Israel. Porto Velho vista aérea

Prefeitura de Porto Velho/Leandro Morais

Porto Velho em seus 110 anos de instalação, viveu e sobreviveu muitos episódios responsáveis pela sua expansão além da margem do rio Madeira. Segundo a Prefeitura de Porto Velho, a capital hoje possui 71 bairros, 12 distritos e uma dimensão territorial de 34.082 km², maior que a Bélgica e Israel.

Em 2022, no último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade tinha uma população de 460.434 pessoas. Já em 2024, o instituto estimou uma população de 514.873 pessoas. A população que teve seu marco zero na beira do rio Madeira, viu a cidade ultrapassando fronteiras.

Ao g1, o professor de história, Luis Henrique, contou as curiosidades dos primeiros bairros e o desenvolvimento da cidade. Segundo o professor, o primeiro bairro de Porto Velho foi o Triângulo, que surgiu nas proximidades onde funcionava a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM).

Início do bairro Triângulo, 1909

Dana B. Merrill

A origem do nome foi dada por conta de um "triângulo de reversão" da ferrovia, que era responsável pela realização de manobra dos trens, nas proximidades do bairro. Nesse mesmo local em 1914, foram construídas as casas de taipa, pelos operários da ferrovia. Já em 1950, uma vila foi construída no local, que passou a ser chamada de Vila da Candelária, onde ficavam as casas dos ferroviários.

"Em 1972, as locomotivas da Estrada de Ferro Madeira Mamoré deixaram de circular pela ferrovia, o que gerou grande tristeza e comoção por aqueles que tinham sua história ligada à ferrovia", conta o professor

O professor conta que um dos bairros criados com o surgimento de Porto Velho foi o Caiari, que significa na etimologia Tupi-Guarani "Madeira em cima d'água". No bairro onde hoje é o estádio Cláudio Coutinho, funcionava o aeroporto de Porto Velho, mais conhecido como Aeroporto do Caiari.

"Com a expansão da cidade e o surgimento de diversos outros bairros, o Caiari perde a condição de bairro chique, ficando na condição de bairro central", conta Luis.

O bairro Arigolândia, surgiu durante a Segunda Guerra Mundial, quando o governo de Getúlio Vargas criou o que hoje chamam de "Soldados da Borracha", para suprir a necessidade da produção da borracha para a guerra. Na época, a cidade recebeu soldados do nordeste, que também eram chamados de "Arigós".

Soldados da borracha e familiares no momento de despedida no Ceará década de 40

Acervo: Museu de Artes da Universidade do Ceará - Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM

Os Arigós desembarcavam no Porto, onde hoje é o Cai N'água, e eram encaminhados sob mira de armas para um campo de concentração ou campo de pouso, até que fossem enviados para os seringais. De acordo com Luís, esse campo era cercado por arame farpado e mantido sob vigilância armada. A saída era proibida e lá prevaleciam leis rígidas e forte disciplina de caráter tipicamente militar.

"Nem todos acabavam sendo encaminhados para os seringais, aqueles que ficavam, passavam a se dedicar a atividades agrícolas, comerciais e mão de obra para as construções", explica.

Além das margens do rio Madeira

Em 1979, Porto Velho inicou sua grande expansão, quando uma empresa passou a negociar lotes urbanos que estavam sendo preparados do outro lado da Avenida Kennedy, que hoje é conhecida como Jorge Teixeira, localizada no bairro Nova Porto Velho.

Antiga avenida Kennedy em Porto Velho

Reprodução/Tadeu Fernandes

A proposta era abrigar a classe média da capital, mas com o fluxo migratório impulsionado pelos garimpos e conflitos no campo, a demanda por habitação começou a entrar em conflito com a especulação imobiliária.

"O loteamento foi invadido por um grupo de aproximadamente 100 famílias. Após uma série de conflitos, ameaças e mortes, a justiça determinou a desapropriação das terras por parte da empresa, concedendo as áreas às famílias", explica.

Na época, o advogado Agenor de Carvalho, um dos defensores destas famílias, foi morto a tiros em sua própria casa por um pistoleiro, após um ano de ameaças e intimidações. Para manter a sua memória preservada, um bairro foi batizado em seu nome.

Agenor Carvalho, visitando posseiros do Bairro Floresta

Reprodução/Redes sociais

Com isso, a região do bairro Nova Porto Velho se tornou o início da formação periférica da capital rondoniense, que se estenderia ao longo da década de 80 para as zonas Leste e Sul, como conhecemos hoje.

Lutas por território

Os bairros que hoje fazem parte das zonas Leste e Sul, carregam em seus espaços, diversas histórias entre tragédias, lutas e curiosidades que deram nomes aos bairros que fazem parte da população da capital.

Uma grande personagem da luta de terras que sucedeu o papel de Agenor de Carvalho, foi a vereadora eleita em 1982, Raquel Cândido. Ela passou a organizar as famílias que chegavam na cidade ocupavam terras ociosas do Estado. Em fevereiro de 1984, Raquel reuniu 400 famílias e invadiu uma área de aproximadamente 50 mil metros quadrados, na Avenida Rio Madeira, próximo ao Conjunto Marechal Rondon.

Vista aérea de Porto Velho

Reprodução/IBGE

Mas em menos de 48 horas, o proprietário daquele local apareceu e ganhou o direito das suas terras da justiça. Com isso, uma ordem de reintegração de posse foi feita, contando com uma série de policiais e jornalistas, o que provocou uma briga generalizada e a destruição de todos os barracos.

Segundo o professor, a zona Sul de Porto Velho nasceu a partir de uma série de invasões, lideradas por Raquel, que lutava por moradias. Um dos mais expressivos episódios foi quando houve a prisão da veradora, após uma centena de famílias ocupar um loteamento chamado "Loteamento Jardim", que marcou uma série de confrontos com a polícia.

No entanto, essa ocupação continuou crescendo e a partir dela, outros bairros foram criados, que hoje são conhecidos como: Jardim Eldorado, Caladinho, Castanheira e Cidade do Lobo.

"O detalhe para toda essa história é que o Caladinho tem esse nome porque ele foi invadido na calada da noite", conta Luis.

Já durante a redemocratização, a prefeitura passou a tomar medidas mais amistosas com a população. Foi assim que a administração pública iniciou a abertura de ruas e encascalhamento no final da Avenida Amazonas, 10 km do rio Madeira, onde surgiram novos bairros, como: Tancredo Neves e o JK.

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